DEUSES E DEUSAS EM TODOS AS PESSOAS
Quando falamos a respeito de deuses e homens, descobrimos que as mulheres muitas vezes acham que existe um deus particular nelas também, da mesma forma como descobrimos que, quando falava a respeito de deusas, os homens podem identificar uma parte de si mesmos com uma deusa específica. Os deuses e as deusas representam qualidades diferentes na psique humana. O panteão de todas as divindades gregas, tanto as masculinas como as femininas, existe como arquétipo em todos nós, embora os deuses geralmente sejam os determinantes mais fortes e influentes da personalidade do homem, assim como as deusas o são para as mulheres.
Todo arquétipo está associado a certos dons e determinados problemas possíveis, “dados por um deus ou deusa”. Reconhecer esses dinamismos torna menos provável tanto a presunção como a autocensura. E, porque tudo o que fazemos e que emerge das nossas profundezas arquetípicas tem um significado para nós, o homem que sabe que deus ou deuses estão ativos nele, torna-se apto a fazer escolhas, sabendo que opções ou rumos é provável que lhe sejam pessoalmente mais satisfatórios, o mesmo se aplica as mulheres.
Ler sobre os deuses torna-se às vezes um meio de “remembrar” partes amputadas (desmembradas) de nós mesmos. Esse processo também pode ser facilitado pelos sonhos, recordações e mitos ativos em nosso inconsciente. Informar-se a respeito dos deuses diferentes nos homens é importante também para as mulheres, muitas das quais fazem grande esforço para procurar entender os homens (geralmente determinado homem de cada vez). As mulheres psicologicamente despertas, as vezes, percebem que se envolvem, vezes e vezes seguidas, com um tipo particular de homem, e percebem que realmente precisam saber “quem” as atrai. O estudo dos deuses pode dizer-lhes que elas foram atraídas por um deus ou arquétipo particular, numa série de homens, e que esse “deus” não é compatível com suas expectativas, o que explica por que suas relações muitas vezes têm um final infeliz.
O discernimento em relação aos “deuses” proporciona a quem cria meninos (especialmente mães solteiras) um meio para ver e avaliar “quem” são seus filhos. O resultado lógico é um pai ou mãe sentindo-se mais competente, porque entende o que provavelmente será aquele filho, como o mundo provavelmente o tratará, quais poderão ser suas forças e fraquezas, e onde ele talvez precise de alguma ajuda.
Tanto os homens quanto as mulheres precisam também enxergar seus pais com clareza, muitas vezes a fim de perdoar-lhes, ou ainda compreendê-los. Entender os deuses e seus mitos pode fornecer uma imagem objetiva do pai e da mãe.
E porque existem também “deuses” nas mulheres, elas podem aperfeiçoar seu autoconhecimento a partir do conhecimento deles. O “Aha!” do momento da revelação pode ser de especial valia para a mulher que já está familiarizada com as “deusas” e que, agora, descobre que determinado deus explica parte do seu próprio comportamento. Ela pode entender a satisfação que todos nós sentimos quando uma peça de um quebra-cabeças se encaixa com perfeição, especialmente quando essa é a peça que faltava, aquela que completa o quadro e dá sentido à vida.
Existem deuses e deusas em todas as pessoas. Por meio deles, pode-se captar pela introspecção, aquele momento em que alguma coisa que sabemos intuitivamente a nosso respeito se conecta com uma imagem nítida e com palavras claras. Assim como ao olhar num espelho e ver nossos traços pela primeira vez, esse lampejo de percepção pode revelar aquilo a que os outros reagem em nós, expondo-nos de uma forma muito mais clara a nós mesmos.
Existem em todos os homens e mulheres padrões inatos arquétipos que se encontram no fundo da psique, moldando os homens e mulheres por dentro. Esses deuses são predisposições invisíveis e poderosas, que atingem a personalidade, o trabalho e os relacionamentos. Os deuses têm ligação com a intensidade ou a distância emocional, com as predileções por precisão mental, exercícios corporais ou avaliação exótica assim como com experiências de fusão extática, entendimento global, noção de tempo, e muito mais. Os diferentes arquétipos são responsáveis pela diversidade entre os homens e pela complexidade masculina e feminina, e têm muito a ver com a facilidade ou dificuldade que homens (e meninos), mulheres e (meninas) experimentam quando há que se conformar com expectativas, e que custo isso acarreta para sua mais profunda autenticidade.
Sentir-se autêntico significa ser livre para desenvolver traços e potenciais que são predisposições inatas. Quando somos aceitos e temos licença para ser genuínos, é possível ter ao mesmo tempo autoestima e sentir-se autêntico. Esse sentimento só se desenvolve se somos encorajados, e não desestimulados pelas reações das pessoas que são importantes para nós, aos termos condutas espontâneas e confiantes, ou quando nos deixamos absorto por aquilo que nos traz contentamento. Desde a infância, primeiro a família e depois a cultura são os espelhos em que nos enxergamos como pessoas aceitáveis ou não. Quando precisamos nos conformar para sermos aceitos, terminamos adotando uma falsa máscara e desempenhando papéis vazios, se entre quem somos por dentro e o que se espera de nós há distância muito grande.
ATIVANDO OS DEUSES E DEUSAS
Todos os deuses são padrões potenciais na psique de todos os nós, mas em cada um de nós, individualmente, alguns desses padrões são ativados (energizados ou desenvolvidos) enquanto outros não. Jung usava a analogia da formação dos cristais para ajudar a explicar a diferença entre padrões arquetípicos (que são universais) e arquétipos ativados (funcionando dentro de nós). O arquétipo é como o padrão invisível que determina a forma e a estrutura que um cristal assumirá quando chegar a ter forma. Assim que isso realmente acontece, o padrão, agora identificável, é análogo a arquétipo ativado. Os arquétipos também podem ser comparados aos “gabaritos” contidos nas sementes. O crescimento que se processa a partir delas depende do solo e das condições climáticas, da ausência ou presença de certos nutrientes, de um cultivo amoroso ou de descaso por parte do jardineiro, do tamanho e da profundidade do recipiente, do viço da própria espécie. Pode ser que a semente nem brote, ou que não sobreviva depois de ter soltado seus primeiros raminhos. Se cresce, pode virar um espécime magnífico, ou ter o desenvolvimento comprometido, talvez agora devido a condições muito distantes do ideal. As circunstâncias afetarão a aparência específica do que cresce a partir da semente, mas a forma ou a identidade básica da planta como o arquétipo ainda continuará reconhecível.
Arquétipos são padrões humanos básicos, alguns dos quais inatamente mais fortes em algumas pessoas que em outras, da mesma maneira como traços humanos tais como aptidão musical, a noção interna de tempo, habilidades paranormais, coordenação física, inteligência. Nós, humanos, temos, todos, certo potencial musical, por exemplo, mas alguns indivíduos (como Mozart) são crianças prodígio e outros terão dificuldade em repetir um som. Acontece o mesmo com os padrões arquetípicos. Alguns parecem ser a encarnação de um arquétipo em particular desde o dia em que nasceram e se mantêm basicamente do mesmo jeito na vida inteira; ou, no caso de outros, determinado arquétipo pode irromper na metade da vida.
Parte do texto foram extraídos das obras de Carl Gustav Jung, Jean Shinoda Bolen e Thomas Bulfinch