ARTIGO
ARQUÉTIPOS


Arquétipos

O QUE SÃO ARQUÉTIPOS ?

C. G. Jung introduziu o conceito de arquétipo na psicanálise e na psicologia. Trata-se de padrões preexistentes, latentes e internamente determinados, de ser e se comportar, de perceber e reagir. Esses padrões estão contidos no inconsciente coletivo, aquela parte do inconsciente que não é individual e sim universal, compartilhada. Esses padrões podem ser descritos de maneira personalizada, como deuses ou deusas; seus mitos são histórias arquetípicas. Esses dinamismos despertam sentimentos e imagens, e tratam de temas universais que fazem parte de nosso legado humano comum. Soam verdadeiras, do ponto de vista de nossas experiências humanas partilhadas e, por isso, dão a sensação de ser vagamente conhecidos, mesmo quando os ouvimos pela primeira vez. E quando interpretamos o mito sobre um deus ou uma deusa, quando captamos intelectualmente seu sentido ou intuitivamente assimilamos sua conexão com nossa vida, o impacto pode ser o mesmo daquele de sonho pessoal que lança luz sobre determinado lado de seu caráter, ou do caráter de uma pessoa que conhecemos.

Na qualidade de figuras arquetípicas, os deuses e deusas são como qualquer outra coisa genérica: descrevem a estrutura básica dessa parte do homem e da mulher, pois arquétipos de deuses e deusas também costumam ser ativados na psique feminina e masculina. Essa estrutura básica é “vestida” ou “corporificada” ou “detalhada” pelo indivíduo do sexo masculino e feminino, cuja singularidade é moldada por sua família, classe social, nacionalidade, religião, pelas experiências de vida o pela época em que vive, assim como por sua aparência física e inteligência. Mesmo assim, é possível reconhecer que ele segue certo padrão arquetípico, que faz lembrar determinado deus ou deusa

Uma vez que as imagens arquetípicas fazem parte de nosso legado humano coletivo, elas são “familiares”. Os mitos da Grécia, com mais de 3.000 anos de história, continuam vivos, e são contados e recontados, porque os deuses e as deusas nos dizem as verdades sobre a natureza humana. Aprender quem são esses deuses gregos pode ajudar os homens a entender melhor quem ou o que atua no fundo do seu psiquismo. E as mulheres podem aprender como entender melhor os homens e as mulheres, sabendo quais deuses e deusas estão ativados nos que lhes são significativos em suas vidas, além de descobrirem que um ou outro “deus ou deusa” em particular pode ser parte de sua própria psique. Os mitos oferecem a possibilidade de um “Ah!” repentino de entendimento, a percepção súbita de alguma coisa que parece certa e, intuitivamente, apreendemos a natureza de uma situação humana com mais profundidade.

A semelhança com Zeus, por exemplo, pode ser drasticamente óbvia nos homens capazes de ser cruéis, que correm riscos para acumular poder e bens, e que querem garantir alta visibilidade assim que alcançam status de destaque. As histórias sobre Zeus geralmente cabem também na vida dos homens que se identificam com ele. Por exemplo, sua vida conjugal e sexual pode lembrar os romances de Zeus. À águia, associada com Zeus, simboliza algumas características desse arquétipo: de sua posição ao alto pode enxergar as coisas por um prisma abrangente, tem a percepção aguçada dos detalhes e a habilidade para atacar rapidamente quando quer apoderar-se de alguma coisa com suas garras.

Hermes, o deus mensageiro, era o comunicador, traquinas, guia de almas até o mundo inferior e o deus das estradas e das fronteiras. O homem que encarna esse arquétipo terá dificuldade em seu instalar num canto só, pois é sensível à sedução das estradas abertas à sua frente e da próxima oportunidade. Tal como o mercúrio (para os romanos ele se chama Mercúrio), esse homem escapa pelo vão dos dedos das pessoas que querem agarrá-lo ou segurá-lo com as mãos.

Zeus e Hermes são dois padrões muito diferentes e os homens que lembram um e outro são muito diversos entre si. Mas, como potencialmente todos os arquétipos estão presentes no homem, esses dois podem estar ativados num mesmo homem. Se esses dinamismos estiverem em equilíbrio em seu interior, o homem pode conseguir estabelecer-se que é uma prioridade de Zeus com a ajuda das habilidades de comunicação e das ideias inovadoras que são típicas de Hermes. Ou ele se perceberá atolado num conflito psíquico, na gangorra entre o seu Zeus que quer poder, o que exige tempo e compromisso, e o Hermes que necessita de liberdade. Esses são só dois dos arquétipos de deuses com valor positivo numa cultura patriarcal.

Quando vemos uma mulher extremamente acolhedora, amorosa, que possui uma relação simbiótica com os filhos, generosa, que gosta de nutrir, estaremos na presença de uma Deméter. A mulher Deméter terá grande dificuldade em deixar os filhos irem para vida, de cortar o cordão. Ela vai sofrer, sentir que está abandonando e sendo abandonada.

A mulher tipo Hera irá suportar traições, humilhações e terá grande dificuldade em se divorciar. Ela se recente com facilidade e é extremamente vingativa. Ela dá extrema importância ao casamente e é dependente do olhar do marido.

Iremos ver mulheres que irão viver o mito de Maria, acreditando cegamente que seu filho ou filha é seu milagre. Que basicamente ela o concebeu sozinha. Mulheres que buscam a produção independente estão vivendo esse mito.

Esses poderosos padrões internos - ou arquétipos - são responsáveis pelas principais diferenças entre as mulheres. Por exemplo, algumas precisam da monogamia, do casamento, ou dos filhos para se sentirem realizadas. Outras optam pela realização profissional e a liberdade e a conquista, tanto afetiva, quanto material.

Os deuses e deusas denegridos ou rejeitados, aqueles cujos atributos não eram prezados naqueles tempos nem agora, também estão ativos na psique masculina e feminina, da mesma forma que na mitologia grega. Havia preconceito contra eles enquanto deuses; a cultura ocidental tem um viés negativo parecido contra eles enquanto arquétipos da psique humana.

Esse viés ainda em vigor atinge a psicologia dos homens e mulheres que devem, cada um a seu modo, reprimir esses aspectos em si mesmos no esforço de se conformar aos valores culturais que recompensam a distância emocional e a frieza, junto com a conquista do poder. Quer esteja trabalhando, quer guerreando ou fazenda amor, quando você só se conforma com o que é esperado a seu respeito, e não conta com nenhuma energia arquetípica para inspirá-lo, gastará enorme quantidade de energia e de esforço. Tanto empenho poderá trazer suas recompensas, mas não proporcionará a sensação da satisfação profunda. Por outro lado, quando faz o que ama, você se valida intimamente e sente prazer, o que faz é consistente com a sua natureza. Você é de fato pessoa feliz se o que faz também é gratificado e valorizado no mundo externo.


O MUNDO INTERNO DOS ARQUÉTIPOS

Quando a vida dá a sensação de não ter sentido, ou quando alguma coisa parece profundamente errada no modo como você vive e no que faz, você pode ajudar tomando consciência das discrepâncias entre os arquétipos, em seu interior, e os papéis visíveis que desempenham. Muitas vezes ficamos presos entre o mundo interno dos arquétipos e o mundo externo dos estereótipos. Os arquétipos são predisposições poderosas; representados pelas imagens e pela mitologia dos deuses gregos. Cada um deles tem impulsos, emoções e necessidades características, que moldam a personalidade. Quando se desempenha um papel relacionado a um arquétipo ativado em nosso íntimo, a profundidade e a significação desse papel em nossa vida geram energia.

Se, por exemplo, se é como Hefesto, o artífice e inventor, deus da forja, que confeccionou bela armadura e belas joias, então se pode passar horas e horas sozinho na oficina, no estúdio ou laboratório, intensamente absorto no que faz, com muito capricho, para atingir os mais altos padrões, Mas se, no íntimo, se é como Hermes, o deus mensageiro, então se é, naturalmente, “alguém que está sempre em movimento”. Seja como representante de vendas itinerante, ou negociador internacional, ama-se o que se faz e para isso é preciso agilidade mental, especialmente se se perceber, como é comum que aconteça, que navegamos por águas eticamente turvas. Se uma mulher for como Deméter, ela pode ficar horas na cozinha, preparando alimento e ter muito prazer com isso. Ele fica feliz e se sente realizada com a ideia de nutrir o outro. Uma mulher Atena vai se realizar com desafios. Ela pode ficar horas estudando ou planejando estratégias de negócios.

Se se é como um desses deuses e tens de fazer o trabalho do outro, este não seria mais uma fonte de prazer e envolvimento, pois o trabalho só é capaz de trazer satisfação quando coincide com nossa natureza arquetípica e com nossos talentos naturais.

As diferenças na vida pessoal também são moldadas pelos arquétipos. O homem que lembra Dioniso, o deus do êxtase, pode estar totalmente absorvido pela sensualidade do momento, quando nada é mais importante do que ser o amante espontâneo. Ele contrasta com o homem que, como Apolo, deus do sol, trabalha para aperfeiçoar suas habilidades e se tornar especialista numa determinada técnica, que pode incluir a de fazer amor. Assim como os arquétipos, os “deuses” existem como padrões que ditam as emoções e os comportamentos; são forças poderosas que exigem o que lhes é devido, quer isso seja reconhecido, quer não.

Reafirmados conscientemente (embora não necessariamente denominados) e respeitados pelo homem e pela mulher em quem existem, esses deuses ajudam o homem e a mulher a ser quem realmente são e motivá-los a levar uma vida que lhes deem a sensação de ter sentido, pois o que eles fazem passa a estar ligado à dimensão arquetípica de sua psique. Mesmo quando desrespeitados e renegados, os deuses também exercem sua influência que costuma ser altamente perturbadora, e suas exigências inconscientes ao serem feitas costumam interromper as atividades. Uma identificação distorcida também é prejudicial. Às vezes, por exemplo, uma pessoa pode se identificar tanto com certo deus que acaba perdendo sua individualidade; torna-se “possuído”.

A pergunta que Jung fez perante sua descoberta dos Arquétipos foi: qual mito que me vive?

Parte do texto foi extraído das obras de Carl Gustav Jung.